A manhã de domingo estava fria. Paulo Ribeiro berrava para os meninos pegarem logo os casacos no quarto, porque ele não gostava de chegar atrasado à escola dominical. Eles fizeram “chacota” e saíram rindo do pai. O clima do café da manhã não foi dos melhores, como em quase todos os domingos. Como esse era o único dia que ele e sua esposa Ana, conseguiam tomar café da manhã juntos, sempre ocorriam discussões, e eles aproveitavam para relembrar o quanto as coisas entre eles já não estavam nada bem.
A viagem de carro em direção à igreja foi mau-humorada e silenciosa. Havia mágoa entre eles e pouca paciência com as crianças, que já estavam imaginando a chatice de fazer algo que detestavam: ter que passar mais uma hora na Escola Dominical.
Ao entrar no estacionamento da igreja, Paulo teve vontade de jogar o carro em cima de uma senhora idosa que atravessou a sua frente, mas se conteve. Ao parar na vaga, deu uma nota de R$ 10,00 para cada um dos dois filhos, ordenando entre-dentes que ofertassem no culto, fez recomendações ríspidas quanto ao comportamento deles, lançou um olhar de ódio para sua esposa e saiu do carro.
Ao subirem a escadaria de acesso às salas, pegou na mão de Ana, deu um largo sorriso para um irmão que o cumprimentou, além de um caloroso “bom dia”! Uma outra irmã os cumprimentou com um sinal de reverência e, não resistindo à tentação, comentou com eles do seu orgulho de fazer parte de uma igreja cuja família do vice-moderador era tão linda e unida: “uma bênção”!
Mais tarde, após a EBD, Paulo e o pastor da igreja subiram solenemente a plataforma do púlpito de onde ele, como um respeitado vice-moderador, iria dirigir o culto. Ao vê-los entrar, toda a igreja se levantou e Paulo, tomado da mais profunda “espiritualidade”, fez uma “linda” oração de preparação para o que iria acontecer ali.
Depois de toda a liturgia introdutória, Paulo passou a palavra ao pastor, sentou-se em uma cadeira estofada atrás do púlpito e se preparou para ouvir o sermão. O pastor fez a leitura de um texto e começou a discorrer sobre o quanto ele se orgulhava de ser um ministro que pregava a “Palavra de Deus”; de como sua igreja se destacava na comunidade eclesiástica por ser uma igreja “bíblica” e que obedecia aos preceitos cristãos.
Foi aí que algo estranho começou a ocorrer com Paulo. Sua mente havia se transformado em uma tela de cinema, e o filme da sua vida apareceu nitidamente a sua frente: ele viu o quanto seu casamento estava desmoronando...; viu que seus filhos não o obedeciam...; percebeu que sua vida espiritual era uma farsa. Paulo Ribeiro se sentiu só e angustiado. E chorou. Chorou como nunca, antes.
Mas suas lágrimas não eram fruto da eloqüência do pastor. Ele chorou porque sua máscara de super-crente caiu.
Naquele momento, muitas perguntas passaram por sua mente como um flash: porque será que ele, como crente, não conseguia viver o verdadeiro evangelho que a bíblia ensina? Porque a sua vida não conseguia dar frutos? Será que sua igreja era bíblica, realmente? Porque ela não conseguia demonstrar o mesmo poder da Igreja primitiva? Amargamente, ele se rendeu ao fato de que, apesar de ser o líder e crente exemplar que aparentava ser, não tinha experimentado ainda o verdadeiro toque do espírito em sua vida.
De forma análoga ao texto acima, muitos crentes atuais têm feito as mesmas perguntas que Paulo Ribeiro fez naquele momento de confronto. Há um sentimento de vazio nos corações dos cristãos hodiernos, que demove o sentido de suas ações e os faz agir de forma automática em relação às coisas de Deus. É como se o Senhor se contentasse com a vida seca que temos levado, por compreender a nossa falta de tempo para investir em um relacionamento profundo com ele, por causa de nossos afazeres e, por isso, já não espere o nosso compromisso com um viver que reflita a Sua presença em nós.
Talvez estejamos achando que o poder dos cristãos “primitivos”, verificado no Novo Testamento só foi possível para os dias daquele tempo e não nos diz respeito porque eles estavam bem perto da existência de Jesus enquanto ser humano, e nós vivemos apenas de escritos frios e distantes daquela realidade.
Ao lançarmos um olhar um pouco mais sincero sobre o modelo de igreja no qual estamos inseridos hoje, somos conduzidos à conclusão de que ele fracassou. Não apenas porque as igrejas não têm conseguido sustentar seus compromissos financeiros enquanto instituições “sociais” (algumas até conseguem); não apenas porque elas têm agido como “saco furado” de novos convertidos, planejando e executando espetaculares campanhas evangelísticas sem, contudo, conseguir garantir que esses neófitos recebam o verdadeiro leite espiritual, do qual Pedro se refere em sua primeira carta, pois as estatísticas mostram que a cada ano, de cada mil pessoas que entram para as igrejas, mil as abandonam. Mas esse modelo fracassou, principalmente, porque os crentes não têm conseguido fazer diferença alguma nessa sociedade hipócrita e consumista, que espera ardentemente por uma resposta nossa aos seus anseios, pois para isso fomos nela colocados por Deus, conforme Romanos 8:19.
Temos sido um povo triste. Não irradiamos o amor sobre o qual discursamos tão bem. Somos liderados por pessoas tristes, preocupadas com sua posição social e política em uma estrutura oligárquica e que privilegia um pequeno círculo, composto pelos mais influentes.
Cabe-nos, como Igreja do tempo do fim, discutir urgente e abertamente os motivos que nos levaram ao fracasso desse modelo, pesquisando as origens da Igreja primitiva e tirando dela lições que possam abençoar a igreja da atualidade, numa tentativa de lançar luz sobre questões tradicional e mortalmente obscurecidas pelo passar dos séculos, nos aproximando ao máximo daquilo que o Senhor Jesus mesmo deixou-nos como modelo em tempos primórdios. Dessas lições, trataremos em outra oportunidade.
Em Cristo, nossa vida!
Evandro Tavares
A viagem de carro em direção à igreja foi mau-humorada e silenciosa. Havia mágoa entre eles e pouca paciência com as crianças, que já estavam imaginando a chatice de fazer algo que detestavam: ter que passar mais uma hora na Escola Dominical.
Ao entrar no estacionamento da igreja, Paulo teve vontade de jogar o carro em cima de uma senhora idosa que atravessou a sua frente, mas se conteve. Ao parar na vaga, deu uma nota de R$ 10,00 para cada um dos dois filhos, ordenando entre-dentes que ofertassem no culto, fez recomendações ríspidas quanto ao comportamento deles, lançou um olhar de ódio para sua esposa e saiu do carro.
Ao subirem a escadaria de acesso às salas, pegou na mão de Ana, deu um largo sorriso para um irmão que o cumprimentou, além de um caloroso “bom dia”! Uma outra irmã os cumprimentou com um sinal de reverência e, não resistindo à tentação, comentou com eles do seu orgulho de fazer parte de uma igreja cuja família do vice-moderador era tão linda e unida: “uma bênção”!
Mais tarde, após a EBD, Paulo e o pastor da igreja subiram solenemente a plataforma do púlpito de onde ele, como um respeitado vice-moderador, iria dirigir o culto. Ao vê-los entrar, toda a igreja se levantou e Paulo, tomado da mais profunda “espiritualidade”, fez uma “linda” oração de preparação para o que iria acontecer ali.
Depois de toda a liturgia introdutória, Paulo passou a palavra ao pastor, sentou-se em uma cadeira estofada atrás do púlpito e se preparou para ouvir o sermão. O pastor fez a leitura de um texto e começou a discorrer sobre o quanto ele se orgulhava de ser um ministro que pregava a “Palavra de Deus”; de como sua igreja se destacava na comunidade eclesiástica por ser uma igreja “bíblica” e que obedecia aos preceitos cristãos.
Foi aí que algo estranho começou a ocorrer com Paulo. Sua mente havia se transformado em uma tela de cinema, e o filme da sua vida apareceu nitidamente a sua frente: ele viu o quanto seu casamento estava desmoronando...; viu que seus filhos não o obedeciam...; percebeu que sua vida espiritual era uma farsa. Paulo Ribeiro se sentiu só e angustiado. E chorou. Chorou como nunca, antes.
Mas suas lágrimas não eram fruto da eloqüência do pastor. Ele chorou porque sua máscara de super-crente caiu.
Naquele momento, muitas perguntas passaram por sua mente como um flash: porque será que ele, como crente, não conseguia viver o verdadeiro evangelho que a bíblia ensina? Porque a sua vida não conseguia dar frutos? Será que sua igreja era bíblica, realmente? Porque ela não conseguia demonstrar o mesmo poder da Igreja primitiva? Amargamente, ele se rendeu ao fato de que, apesar de ser o líder e crente exemplar que aparentava ser, não tinha experimentado ainda o verdadeiro toque do espírito em sua vida.
De forma análoga ao texto acima, muitos crentes atuais têm feito as mesmas perguntas que Paulo Ribeiro fez naquele momento de confronto. Há um sentimento de vazio nos corações dos cristãos hodiernos, que demove o sentido de suas ações e os faz agir de forma automática em relação às coisas de Deus. É como se o Senhor se contentasse com a vida seca que temos levado, por compreender a nossa falta de tempo para investir em um relacionamento profundo com ele, por causa de nossos afazeres e, por isso, já não espere o nosso compromisso com um viver que reflita a Sua presença em nós.
Talvez estejamos achando que o poder dos cristãos “primitivos”, verificado no Novo Testamento só foi possível para os dias daquele tempo e não nos diz respeito porque eles estavam bem perto da existência de Jesus enquanto ser humano, e nós vivemos apenas de escritos frios e distantes daquela realidade.
Ao lançarmos um olhar um pouco mais sincero sobre o modelo de igreja no qual estamos inseridos hoje, somos conduzidos à conclusão de que ele fracassou. Não apenas porque as igrejas não têm conseguido sustentar seus compromissos financeiros enquanto instituições “sociais” (algumas até conseguem); não apenas porque elas têm agido como “saco furado” de novos convertidos, planejando e executando espetaculares campanhas evangelísticas sem, contudo, conseguir garantir que esses neófitos recebam o verdadeiro leite espiritual, do qual Pedro se refere em sua primeira carta, pois as estatísticas mostram que a cada ano, de cada mil pessoas que entram para as igrejas, mil as abandonam. Mas esse modelo fracassou, principalmente, porque os crentes não têm conseguido fazer diferença alguma nessa sociedade hipócrita e consumista, que espera ardentemente por uma resposta nossa aos seus anseios, pois para isso fomos nela colocados por Deus, conforme Romanos 8:19.
Temos sido um povo triste. Não irradiamos o amor sobre o qual discursamos tão bem. Somos liderados por pessoas tristes, preocupadas com sua posição social e política em uma estrutura oligárquica e que privilegia um pequeno círculo, composto pelos mais influentes.
Cabe-nos, como Igreja do tempo do fim, discutir urgente e abertamente os motivos que nos levaram ao fracasso desse modelo, pesquisando as origens da Igreja primitiva e tirando dela lições que possam abençoar a igreja da atualidade, numa tentativa de lançar luz sobre questões tradicional e mortalmente obscurecidas pelo passar dos séculos, nos aproximando ao máximo daquilo que o Senhor Jesus mesmo deixou-nos como modelo em tempos primórdios. Dessas lições, trataremos em outra oportunidade.
Em Cristo, nossa vida!
Evandro Tavares
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